quarta-feira, outubro 28, 2009

FM069 - Um Copo, Mais Um Copo (Fernando Maurício)

Um Copo, Mais Um Copo

Desde que tu partiste,
Perdi a felicidade
E p'ra que ninguém veja,
Sinais do meu tormento

Sózinho vou matando,
Toda a minha saudade
Entre as quatro paredes,
Do nosso apartamento


Um copo, mais um copo
Um cinzeiro já cheio
De pontas de cigarro
Uma velha moldura
Lembrando a tua imagem
E a dor a que me agarro

Um copo, mais um copo
Uma canção de amor
E fumaças sem fim
É tudo o que me resta,
É tudo que ficou
De ti... de nós... de mim


Errante p'la cidade,
Alheio á multidão
Fugindo dos amigos
Vou caminhando a esmo

Os dias são iguais,
As horas iguais são
E quando a noite chega,
O fim, é sempre o mesmo


Fernando Farinha

sábado, fevereiro 07, 2009

Esclarecimento

Serve o presente post para comunicar a todos os que lêem este blog, que as letras nele transcritas são as palavras ditas (aquilo que ouço) pela boca de quem as canta e que me limito também a transcrever das capas de discos, cassetes e cd´s os seus autores, daí não ter qualquer responsabilidade pela veracidade do que a editora escreveu.

Penso que já deveria de ter feito esta comunicação, mas falta-me tempo para actualizar o blog.

Agradeço a todos os que me corrigiram e prometo a sua correcção para breve.

domingo, fevereiro 25, 2007

FM068 - Esta Noite Não (Fernando Maurício)

Esta Noite Não


Amanhã quando acordar

Poderei, ser coisa pouca

Ou talvez, traço de boca

Ainda por desenhar


Ser algo entre os escolhos

Que se procura salvar

Ou então ser dos teus olhos

Um jeito triste de olhar


Poderei ser folha morta

Sem nunca tombar ao chão

Ou trinco velho de porta

Que só abre à tua mão


Poderei ser a razão

Dum poema feito a esmo

Porém esta noite não

Porque ainda sou o mesmo


Fado Amora – (Jorge Fernando – Armandinho Joaquim Campos) [correcção J. Almeida]

FM067 - Alma Do Ribatejo (Fernando Maurício)

Alma Do Ribatejo


Ribatejo é aguarela, que deus criou com amor

É de todas a mais bela, pintada plo criador

A campina lá do céu, de sacrifício e de glória

Onde um campino escreveu, a sua história sem história



O campino assim que o sol aparece

Erguendo ao céu uma prece, montado em seu alazão

É o arauto do eterno labutar

De quem procura encontrar, a certeza de seu pão


E a campina imensa a perder de vista

Vencida pela conquista, do homem rude e valente

É o hino que a natureza criou

E que o campino gravou, no seu peito eternamente



Tem a campina um segredo, uma epopeia sagrada

Homens que lutam sem medo, e que dão tudo por nada

O segredo do valor, do homem simples e são

Que conquista sem temor, a terra, a vida e o pão


(Romeira Alves – J. Fontes)

FM066 - Fado Sem Nome (Fernando Maurício)

Fado Sem Nome


Ouvi um fado sem nome, Numa voz entristecida

Não sei porquê recordou-me, O fado da tua vida


Foi na velha Mouraria, Em certa noite distante

Como soluço de amante, Uma guitarra gemia


Desventura, nostalgia, Ciúme, pecado, dor

Saudade, tristeza, amor, Tudo dessa tua voz saía


E quanto um fado podia, Fazer lembrar-me de ti

Uma saudade senti, Doutra saudade morria


Porque esse fado sem nome, Sem adeus na despedida

De tão triste recordou-me, O fado da tua vida


Fado Carlos Damaia 4ªs (Carlos da Maia - Moita Girão)

FM065 - Tudo Acabou (Fernando Maurício)

Tudo Acabou


Desde que te ouvi dizendo

Que sentimento em revolta

Adeus amor acabou-se


Os anos foram correndo

O mundo deu muita volta

E a vida modificou-se



Ainda trago comigo

Aquela cruz que me deste

Tudo o que guardo de ti


Cruz que tem sido o castigo

A lembrar-me que esqueceste

Tanta jura que te eu ouvi



Não sei onde estás agora

Nem sei se vives ainda

Ou se Deus já te levou


Eu sigo pla vida fora

Sentindo a saudade infinda

Dum amor que se acabou


Marcha do Marceneiro – (Alfredo Marceneiro - Moita Girão

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

FM064 - Brinquedo De Infância (Fernando Maurício)

Brinquedo De Infância


Tive um brinquedo em menino

Julgo que ninguém mo deu


Um cavalo pequenino

Mas era somente meu



Não sei se foi minha mãe

Que esse cavalo me deu


Não sei até se o achei

Mas o cavalo era meu



Eu cavalgava corria

O meu cavalo correu


E que feliz me sentia

Porque o brinquedo era meu



Hoje adulto já não conto

Em voltar a ser petiz


Mas em sonho ainda monto

O meu cavalo e sou feliz


Fado Alfacinha – (Jaime Santos - Mário Raínho)

FM063 - Vem Comigo (Fernando Maurício)

Vem Comigo


Vem daí anda comigo, numa tipóia a meu lado

E verás como consigo, recordar tempo passado


Este favor que te peço, podes crer não é vaidade

Mas sim a grande saudade, do que mais gosto, confesso


É porque eu dou grande apreço, aos retiros do passado

Toiradas, esperas de gado, a tudo o que seja antigo

Vem daí anda comigo, numa tipóia a meu lado


Vamos ao Perna de Pau, ao Charquinho, ao Quebra-Bilhas

E também às maravilhas, do Caliça e Bacalhau


E no Retiro do Calhau, cantarei pra ti um fado

Vigoroso, afadistado, um fado que te não digo

E verás como eu consigo, recordar tempo passado


Fado Dois Tons – (Júlio Vieitas – Popular)

FM062 - Sedento De Ti (Fernando Maurício)

Sedento De Ti


Sedento de ti, amor

Fiz destes versos ternura

Como quem gera uma flor

Num campo de pedra dura



Sedento de ti, amor

Do corpo que me oferecias

Onde voguei ao sabor

Das marés que me trazias



Sedento de ti, amor

Andei na neve dos sonhos

Num trenó feito de dor

Puxado por cães medonhos



Sedento de ti, amor

Encontrei abandonado

Embriagado na dor

Do teu fado que é meu fado


Fado Vianinha – (Jorge Fernando – Francisco Viana)

FM061 - Meia-Noite (Fernando Maurício)

Meia-Noite


É meia-noite bem sei, meia-noite é meia vida

Meia vida que gastei, em meia-noite perdida


Não me fales mais da hora, tão tardia a que voltei

Perdi o tempo lá fora, é meia-noite bem sei


Se esta vida são dois dias, verdade não desmentida

Para maiores arrelias, meia-noite é meia vida


Ficarás mais consolada, do desgosto que te dei

Sabendo desperdiçada, meia vida que gastei


Eu juro se fizer jeito, à tua alma sentida

Não tirei nenhum proveito, em meia-noite perdida


Filipe Pinto / Conde Sobral

FM060 - Quinze Primaveras (Fernando Maurício)

Quinze Primaveras


Tinhas sorrisos em flor

Uns lábios de rubra cor

Como se fossem romãs

No olhar tinhas virtude

E na tua juventude

A frescura das manhãs


Nos teus cabelos ao vento

Searas aonde o tempo

Pôs leve toque dourado

Passearam os meus dedos

Com carícias e segredos

E um mimo mais ousado



Ai meu amor, que saudade

Dessa tua mocidade

Desse tempo de quimeras

Tinhas sorrisos em flor

Uns lábios de rubra cor

E umas quinze primaveras


Fado Primavera - (Mário Raínho – F. Freitas Pedro Rodrigues) [correcção Anónimo]

FM059 - Conta De Beijos (Fernando Maurício)

Conta De Beijos


Dos beijos que tu me deste, e dos beijos que eu te dei

Diz se a conta já fizeste, porque fazê-la não sei


Já tenho a cabeça tonta, não há soma que me reste

Ao tentar fazer a conta, dos beijos que tu me deste


Fiz várias contas sem fim, somei os que me lembrei

Dos que tu me deste a mim, e dos beijos que eu te dei


Mas como fiquei incerto, se ainda não te esqueceste

Para eu saber ao certo, diz se a conta já fizeste


Eram estes os meus desejos, mas como não acertei

Faz tu a conta dos beijos, porque fazê-la não sei


Fado Puchavante – (Júlio Proença D.R. - J. Pinto) [correcção Anónimo]

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

FM058 - Testamento Fadista (Fernando Maurício)

Testamento Fadista


Meus amigos, meus irmãos

Companheiros da aventura

Das minhas noites fadistas


Já não tenho em minhas mãos

Essa lúcida loucura

De lutas e de conquistas



A vida passa a correr

Os anos vão-se somando

E nós seguimos sorrindo


Fingindo não estar a ver

O cabelo branqueando

E a mocidade fugindo



Mas no dia em que partir

Não levo comigo o tormento

Porque não vos deixo sós


Parto com a alma a sorrir

Deixando por testamento

Minha voz pra todos vós


Fado Cigano – (Mário Raínho – D. R.)

FM057 - Bairro Eterno (Fernando Maurício)

Bairro Eterno


Oh Lisboa dona airosa, Que fizeste à Mouraria

Que anda triste e desgostosa, A soluçar noite e dia

Oh Lisboa dona airosa, Que fizeste à Mouraria


Coitada pobre velhinha, Decerto foste ofendida

Perdeste a graça que tinhas, Estás muito mais abatida

Perdeste a graça que tinhas, Estás muito mais abatida


Se era essa a tua sina, Não te queixes de Lisboa

Querias ser sempre menina, Mas o tempo não perdoa

Querias ser sempre menina, Mas o tempo não perdoa


Hás-de passar a ser moderna, Ter mais cor mais fantasia

Sem deixares de ser eterna, Mouraria, Mouraria

Sem deixares de ser eterna, Mouraria, Mouraria


E numa prece singela, Pra que seu nome não mude

Fadistas rezai por ela, À Senhora da Saúde

Fadistas rezai por ela, À Senhora da Saúde


Fado Zé António Pechincha - (D.R. - Júlio Vieitas) [Correcção Anónimo]

FM056 - Irmão Da Juventude (Fernando Maurício)

Irmão Da Juventude


Nascemos na mesma rua

Chutámos a mesma bola

Passámos a mesma fome

A minha fome era a sua

Nem sequer fomos à escola

Crescemos os dois sem nome



Unidos fomos à moina

Foi a fruta, foi o pão

E outras coisas que havia

Andámos juntos na estroina

Malandros até mais não

No bairro da Mouraria



Hoje temos outra idade

O passado é já distância

E a vida não nos ilude

Mas tenho de ti saudade

Ó meu amigo de infância

Meu irmão da juventude

(Mário Raínho – Victor Daniel)

FM055 - Diz-me Mãe (Fernando Maurício)

Diz-me Mãe


Tu não tens culpa mãe, de eu ser só isto

Havia dois caminhos, do diabo e de Cristo

Um terceiro inventei e nele me perdi

Então criei sozinho um outro mundo, tão belo

Tão perfeito como a curva suave do teu peito, que não vi

Mãe quero ser pequenino, que os meus primeiros passos

Sejam iguais aos do menino saído dos teus braços, sem ambição

Tu não tens culpa mãe, de eu ser só isto, perdão


Diz-me, diz-me, minha mãe

Na tristeza desta hora

Quantas dores eu te custei

E te dei pla vida fora

Diz-me, se quando dormia

Nesse teu colo divino

A tua alma não pedia

A Deus, pelo teu menino

Diz-me tu, que me geraste

Meu vaso, minha raiz

Quantas lágrimas choraste

Plas loucuras que fiz


Todas as dores do passado

E do presente também

Descansa-as neste meu fado

Boa noite minha mãe

Fado Menor – (Mário Raínho – J. Sousa - Popular)

FM054 - Como É Bom Ser Pequenino (Fernando Maurício)

Como É Bom Ser Pequenino


É tão bom ser pequenino, ter pai, ter mãe, ter avós

Ter esperança no destino, e ter quem goste de nós


Vem cá José Manuel, dás-me a graciosa ideia

De Jesus da Galileia, a traquinar no vergel


És moreninho de pele, como foi o Deus menino

Tens o mesmo olhar divino, ai que saudades eu tenho

Em não ser do teu tamanho, é tão bom ser pequenino



Os teus dedos delicados, nessas tuas mãos inquietas

Lembram-me dez borboletas, a voejar nos silvados


E como tu sem cuidados, também já corri veloz

Vem cá falemos a sós, dum caso sentimental

Quero dizer-te o que vale, ter pai, ter mãe, ter avós



Ter avós afirmo-te eu, perdoa as imagens minhas

É ter relíquias velhinhas, e ter mãe é ter o céu


Ter pai assim como o teu, te dá o pão e o ensino

É ter sempre o sol a pino, e o luar como rouxinóis

Triunfar como os heróis, e ter esperança no destino



Tu sabes o que é esperança, o sonho, a ilusão, a fé

Sabes lá o que isso é, minha inocente criança


Tu és fonte na pujança, teu rio que chegou à foz

Eu sou ante tu após, que saudades, que saudades

A gente a fazer maldades, e ter quem goste de nós

Fado Dois Tons Corrido – (Júlio Vieitas – Popular) [Correcção Anónimo]

FM053 - Divina Do Amor (Fernando Maurício)

Divina Do Amor


Ó divina do amor

Amante, mulher, irmã

Senhora amiga do lar


O teu rosto é uma flor

Orvalhada pla manhã

Que a minha voz quis cantar



Ó divina do amor

Minha razão de viver

A ternura em cada instante


Quem te deu esse esplendor

Que me dá gosto de ser

O teu amor teu amante



Minha menina crescida

Que Deus quis pôr a meu lado

Como irmã da minha dor


Por ti é que existe a vida

Por ti eu canto este fado

Ó divina do amor

Fado Britinho – (Frederico de Brito - Mário Raínho)

FM052 - Tantos Fados Deu-me A Vida (Fernando Maurício)

Tantos Fados Deu-me A Vida


Eu fui a voz, aquela voz dolorida

Cantando a sós, com a solidão da vida

Mas sei que em mim, há um lado transparente

Que é um generoso abraço, entre mim e a minha gente


Tantos fados deu-me a vida

E eu dei-me todo ao fado

Em cada noite perdida

Entre um verso e uma bebida

Em mil fados fui escutado

Cantei os sonhos frustrados

Dos poetas sonhadores

Dei a voz a tristes fados

E ao cantar de olhos cerrados

Vi mais perto as suas dores


Eu fui o sal, de tanta lágrima triste

O vendaval, que se amaina e logo insiste

Mas sei que em mim, houve sempre à flor da voz

Um fado triste e dolente, que é um fado que há em nós

(Jorge Fernando - Jorge Fernando)

FM051 - Lua De Maio (Fernando Maurício)

Lua de Maio


Amor meu, que meu não seja

O destino de perder-te

Outro amor, cega te traz

Que o meu olhar, te não veja

Quando penso merecer-te

E sei que a outro te dás


Lua de Maio

Servida em taça de luz

Como um cigano andaluz

Cantando mágoas dum fado

Lua de Maio

Entristeceu meu olhar

Breve lembrança, a lembrar

Um grande amor, acabado


Por amor, só por amor

Faz-nos a vida aceitar

O sal que as lágrimas são

Mas quando dói, é dor

Que ao ser que somos vem dar

A tristeza ao coração

(Jorge Fernando – Jorge Fernando)

FM050 - Quando A Severa Morreu (Fernando Maurício)

Quando A Severa Morreu


Noite fagueira, de S. João na Mouraria

Uma fogueira, arde no Largo da Guia

Chegam Tipóias, com Fidalgos e Ciganas

Riem Pinóias, com a graça de Timpanas


Sobem balões, tem mais brilho a luz da lua

E os alegres foliões, cantam nas marchas da rua

Geme a guitarra, com emoção tudo espera

Falta chegar a Severa, com sua graça bizarra


Mas já no Largo, a fogueira se extinguia

Destino amargo, Severa não mais viria

Àquela hora, nos braços do seu amado

Cantava agora, o seu derradeiro fado


Tangem os sinos, na Capelinha da Guia

E dois anjos pequeninos, desceram à Mouraria

Amanheceu, e voz do fado calou-se

E a própria lua ocultou-se, pra ver Severa no céu

Fado Modesto – (A. Vilar da Costa – D. R.)

FM049 - Adeus A Um Amigo (Fernando Maurício)

Adeus A Um Amigo


Só nós dois é que sabemos

Quantos fados acendemos

Nas noites desta cidade

O Vendaval já passou

Mas a tua voz ficou

Na memória da saudade



Tu foste o Cantor Latino

Que começou de menino

A vaguear neste rio

Foste o poema em renovo

Cantiga na voz do povo

E hoje és Lugar Vazio



Com um cântico na mão

Romântico meu irmão

Tu foste pla vida fora

Foi Hora de Despedida

Fechou-se o Palco da Vida

O Destino Marca a Hora

Fado Oliveira – (Mário Raínho – D. R.)

FM048 - Um Grande Amor (Fernando Maurício)

Um Grande Amor


Amor não é palavra que diga

Sem o sentir profundo da verdade

Amor é quanto baste minha amiga

Pra estar longe um segundo e ter saudade

Amor não é somente possuir-te

Em nome dum desejo disfarçado

Amor é num só beijo definir-te

O que o coração diz mesmo calado

Amor pode ser dor, pode ser pranto

E pode do prazer, ser rei e senhor

Pode passar a margem do encanto

Como pode nem mesmo ser amor

E quem o amor perder, deve lembrar

No momento em que doa a maior dor

Pois só com outro amor pode acalmar

O resto do que foi um grande amor

(Custódio Castelo – Jorge Fernando)

FM047 - Minha Mãe É Pobrezinha (Fernando Maurício)

Minha Mãe É Pobrezinha


Minha mãe é pobrezinha, não tem nada pra me dar

Dá-me beijos coitadinha, e depois põe-se a chorar


Tonecas e Marianela, dois engraçados garotos

Foram sentar-se os marotos, por sob a minha janela

Nisto diz ele pra ela, porque andas mal vestidinha

Ando sim, mas não é minha a culpa de andar assim

A vida está tão ruim, minha mãe é pobrezinha

Mas nunca andaste calçada, nunca tiveste sapatos

Ela baixou os gaiatos olhitos envergonhada

Mas nunca tiveste nada, uma corda pra saltar

Um arco para brincar, um tambor, muitas bonecas

Minha mãezinha, Tonecas, não tem nada pra me dar


Gostaria de saber, porque nunca foste à escola

A gente pra pedir esmola, não precisa de saber ler

Então, onde vais comer? A casa de uma vizinha

Como lá, de manhãzinha, há noite vou lá também

E depois a minha mãe, dá-me beijos coitadinha

Beijos são apenas beijos, tu perdoa que te diga

Se não enchem a barriga, não devem matar desejos

Mas não sabem a sobejos, têm outro paladar

Sabem ao doce manjar, dos mais ternos alimentos

Minha mãe dá-mos aos centos, e depois põe-se a chorar

(Popular – Linhares Barbosa)

FM046 - Loucuras De Um Homem Só (Fernando Maurício)

Loucuras De Um Homem Só


Aqui, neste lugar feito de espanto

Tecendo, primaveras a sonhar

Desvendo, ante os meus olhos o encanto

Das formas do teu corpo, por beijar


Dou asas, aos meus sonhos proibidos

Mas tenho a solidão, como castigo

Amordaçando a fome, dos sentidos

Que morrem por fazer amor contigo


Desfaço, a ilusão fica a saudade

No teu corpo perdido, pela lonjura

Depois deambulando pla cidade

Vagueia um homem só, com a loucura

Fado Jovita (Mário Raínho – D. R.)

FM045 - A Minha Oração (Fernando Maurício)

A Minha Oração


Não fui menino de coro

Nunca aprendi a rezar

Mas aprendi este choro

Que a vida me soube dar


Esta mágoa na garganta

Com que canto os meus revezes

Diz o povo que quem canta

Reza sempre duas vezes


Cada verso uma oração

Um Padre-Nosso rezado

E na minha confissão

Vão as rimas do meu fado


Nunca aprendi a rezar

A erguer as mãos aos céus

Mas eu sinto que ao cantar

Estou a conversar com Deus

Fado Menor do Porto – (Mário Raínho – D. R.)


FM044 - Mar Cruel (Fernando Maurício)

Mar Cruel


Foi levada um dia na esperança

Da sua pobre vida melhorar

E os meus olhos tristes de criança

Choraram por os seus irem esperar


Trazes-me notícias depois foges

Ó mar cruel, ó mar cruel

Dum amor que tenho e que está longe

Ó mar cruel, ó mar cruel


E esse mar que nos aparta

É o mesmo que nos aproxima

Porque às vezes, trás uma carta

Que nos une e o nosso amor sublima

Hoje tantos anos já passados

A minha esperança vive sem temor

Porque o mar que trás os teus recados

Há-de trazer-te um dia meu amor

(Jorge Fernando - Jorge Fernando)


FM043 - Deixem-me ser assim (Fernando Maurício)

Deixem-me Ser Assim


Deixem-me ser assim

Fadista como sou

Ser voz de mar tranquilo

Ser voz de noite calma

Deixem-me ser jardim

Que em mim se cultivou

Onde a seiva da voz

Transforma a flor em alma


Deixem-me ser assim

Apenas como sou

Ser onda que alcançou

A praia desejada

Não me gritem decretos

Que um dia alguém criou

Não sou palco de versos

Sou eu ou então nada


Por isso é que renasce

Em todos os meus fados

No ventre cristalino

Dum sol que não tem fim

Jamais cantarei preso

A gestos estudados

Não trago o fado à vista

Mas sim dentro de mim

(Jorge Fernando – Martinho da Assunção)


sexta-feira, novembro 03, 2006

FM042 - Aquela Boca (Fernando Maurício)

Aquela Boca


Conheço como os meus dedos
Os traços daquela boca
Que me beijou tanta vez

Ouvi-lhe tantos segredos
E tanta palavra louca
Em tanta jura que fez


É tão meiga apetitosa
Tão formosa, sedutora
Cheia de perfume e cor

É a boca mais mimosa
Mas a mais enganadora
A trocar beijos d’amor

Não há boca mais travessa
Provocante, sorridente
E atraente não há

Como eu quem a conheça
Sabe que essa boca mente
Em cada beijo que dá


Encantadora sensível
Quando não beija revela
A forma dum coração

Até parece impossível
Que uma boca como aquela
Não saiba dizer perdão

Fado Sonhos (Moita Girão – Frederico de Brito)

sábado, setembro 09, 2006

FM041 - Mais uma foto do Rei


in http://www.fblog.noite.pt/Fado/