segunda-feira, julho 17, 2006

FM039 - Voltei Ao Cais (Fernando Maurício)

Voltei Ao Cais

Voltei ao cais da partida
Voltei e sinto que sonhei
Que voltavas nesse dia

E que trazias a vida
Que há tempo ao cais te levei
Ficando d’alma vazia


Meu olhar iluminou-se
Quando te vi acenando
Corri para te abraçar

Mas o sonho dissipou-se
E acordei mesmo quando
Ia teus lábios beijar


Vi fugir o doce enleio
Que envolveu teu regressar
É triste a realidade

Tu não vens e eu receio
Que me possa habituar
A viver com a saudade



Fado Porto - (António Rocha – José Joaquim Cavalheiro Junior)

FM038 - Pergunta A Quem Quiseres (Fernando Maurício)

Pergunta a Quem Quiseres

Pergunta a quem quiseres
Ao vento à madrugada
Se deixei de te amar
Se acaso te esqueci


Pergunta até às flores
Quando a noite orvalhava
Se não eram meus olhos
A chorarem por ti


Pergunta à verde cor
Dos sonhos que sonhei
À lua aos lábios frios
Que beijei e esqueci


Pergunta à minha dor
Quantos fados cantei
Nos mil dias vazios
Em que esperei por ti


Pergunta à ilusão
Das luas do pecado
Aos amores que não quis
E que deixei pr’aí


Pergunta à solidão
Do meu quarto alugado
Se as loucuras que fiz
Não foi pensando em ti



Fado Laranjeira – (Mário Raínho – Alfredo Marceneiro)

FM037 - O Menino Que Não Fui (Fernando Maurício)

O Menino Que Não Fui

Nasci talhado de fado
Cresci no tempo a correr
Sem direito de sonhar

Não parei no meu passado
Fui menino sem saber
E condenado a cantar


Tive a noite por guarida
Deram um fado por pão
Por enxerga a fria rua

Dormi à margem da vida
Ao lado da solidão
Coberto pla luz da lua


Queria voltar a nascer
E sonhar um só momento
No meu pequenino

Passou o tempo a correr
Não tive idade nem tempo
De brincar e ser menino



Fado João Maria dos Anjos – (Mário Raínho – João Maria dos Anjos)

FM036 - O Beijo Que Não Se Deu (Fernando Maurício)

O Beijo Que Não Se Deu

Tanta ternura em desejo
Nos lábios pode ficar

A lembrar aquele beijo
Que não se chegou a dar


Quando um beijo é prometido
Fica-nos sempre o ensejo

De haver em nosso sentido
Tanta ternura em desejo


E aquele que a nossa boca
Em promessa quis pagar

Às vezes por coisa pouca
Nos lábios pode ficar


Se é de sincera amizade
E nunca um simples gracejo

Sentimos sempre vontade
A lembrar aquele beijo


No nosso amor sempre nele
Há beijos pra recordar

Mas nunca se esquece aquele
Que não se chegou a dar



(Clemente Pereira – Casimiro Ramos)

FM035 - Meu Amor É Nuvem Branca (Fernando Maurício)

Meu Amor É Nuvem Branca

Meu amor é nuvem branca
Enleada ao firmamento

É um rouxinol que canta
Madrigais feitos de vento


Meu amor é rio correndo
Pra ir abraçar a foz

É um poema prendendo
A alma dentro da voz


Meu amor é uma criança
A florir em verdes prados

É beijo que se não cansa
Nuns lábios enamorados


Meu amor é um coração
Todo de versos bordado

É pomba na minha mão
Meu amor é este fado



(Mário Raínho – José Marques do Amaral)

FM034 - Justino da Tipoia (Fernando Maurício)

Justino da Tipoia

Eu não sei se vocês, se lembram dele
Chamavam-lhe o Justino, da Tipóia

Era o maior amigo, o mais fiel
Do fado, da boémia, e da ramboia


Tinha orgulho nas cartas, na jaleca
No boné à fadista, e lenço à faia

Fazia praça ali, na Horta Seca
E morava na rua, da Atalaia


Sabia a vida íntima, amorosa
Dos faias, bailarinas, fidalguia

Mas numa directriz, imperiosa
Não contava a ninguém, o que sabia


Morreu pobre Justino, a quem o fado
Deve laivos de vida, e de fulgor

As rédeas deu-as ele, ao Zé Corado
E as guizeiras ao Bento Alquilador



Fado Zé Negro – (Fernando Freitas – Carlos Conde)

FM033 - Estrela Que Se Apaga (Fernando Maurício)

Estrela Que Se Apaga

Tenho as estrelas por telha
O meu tecto um velho barco
Por paredes a maresia

Espreita-me o arco-da-velha
Como se a velha e o arco
Me fizessem companhia


O corpo já não reclama
Os colchões de pedra dura
A que está habituado

Mas por dentro há uma chama
Que arde viva e segura
No meu sangue revoltado


Quando chega o vento aflito
Contra os vidros da janela
Do quarto que não conheço

Sopro para o infinito
Apago a última estrela
Logo depois adormeço



(Jorge Fernando – Jaime Santos)

FM032 - Escrevi Teu Nome No Vento (Fernando Maurício)

Escrevi Teu Nome No Vento

Escrevi teu nome no vento
Convencido que o escrevia

Na folha dum esquecimento
Que no vento se perdia


Ao vê-lo seguir envolto
Na poeira do caminho

Julguei meu coração solto
Dos elos do teu carinho


Pobre de mim não pensava
Que tal e qual como eu

O vento se apaixonava
Por este nome que é teu


Em vez de ir longe levá-lo
Longe, onde o tempo lhes passa

Anda contente a gritá-lo
Onde passa e a quem passa


E quando o vento se agita
Agita-se o meu tormento

Quero esquecer-te acredita
Mas cada vez há mais vento



Fado Carriche – (Jorge Rosa – Raul Ferrão)

FM031 - Confessando (Fernando Maurício)

Confessando

Esta carta minha mãe
É o espelho onde o teu filho
Se desnuda totalmente

O fogo que o vinho tem
Acendeu este rastilho
E a coragem de ser gente


É por ela, sim confesso
Que de segundo a segundo
Bebo a febre de morrer

Mas quando a vires só te peço
Não lhe contes o meu mundo
Não lhe dês esse prazer


Neste meu quarto isolado
O vinho que vou bebendo
A sua imagem retém

Sobrevivo neste fado
Muito embora eu a perdendo
Continuo a ter-te mãe



(Jorge Fernando – Alfredo Marceneiro)

FM030 - Caravela da Saudade (Fernando Maurício)

Caravela da Saudade

Nos tempos em que o mar era um segredo
Desafiando a própria tempestade

Alguns heróis partiram sem ter medo
Na dócil Caravela da Saudade


E já no alto mar longe da barra
Odiados pela fé de lés a lés

Havia sempre um choro de guitarra
E o soluçar de um fado no convés


A Caravelas e mágoas afundou-se
E a guitarra seguindo as marés cheias

Chorando de onda em onda transformou-se
Nesse cantar lendário das sereias


E hoje ao lembrar tanta heroicidade
Quando soluça e geme uma guitarra

Sente-se a Caravela da Saudade
Chegar ao coração e entrar na barra



Fado Esmeraldinha – (Júlio Proença – Carlos Zamarra)

FM029 - Boa Noite Solidão (Fernando Maurício)

Boa Noite Solidão

Boa noite solidão
Vi entrar pla janela
Teu corpo de negrura

Quero dar-te a minha mão
Como a chama duma vela
Dá a mão à noite escura


Os teus dedos solidão
Despenteiam a saudade
Que ficou no lugar dela

Espalhas saudade plo chão
E contra a minha vontade
Lembras-me a vida com ela


Só tu sabes solidão
A angustia que trás a dor
Quando o amor a gente nega

Como quem perde a razão
Afogando o nosso amor
No orgulho que nos cega


Com o coração na mão
Vou pedir-te sem fingir
Que não me fales mais dela

Boa noite solidão
Agora quero dormir
Porque vou sonhar com ela



Fado Carlos da Maia 6ªs – (Jorge Fernando – Carlos da Maia)

FM028 - Aqui (Fernando Maurício)

Aqui

Aqui em cada fado, há uma flor
No canteiro da alma, de quem canta

Aqui cada guitarra, embala a dor
Quando à noite a saudade, se levanta


Aqui cada poema, é gota d’água
Que às vezes mata a sede, à solidão

Aqui cada cigarro, engana a mágoa
E perfuma a tristeza, de ilusão


Aqui toda a distância, do passado
Senta-se à minha mesa, de mansinho

Aqui as minhas veias, bebem fado
Que nasce em cada canjirão, de vinho


Aqui sinto a coragem, de ser eu
Ao rir do meu passado, fatalista

Cantando com a voz, que Deus me deu
Aqui de corpo e alma, sou fadista



Fado Varela - (Mário Raínho – Renato Varela)

FM027 - Amigo João (Fernando Maurício)

Amigo João

Ó meu amigo João
Em que terras te perdeste
Se por nada lá morreste
Meu amigo, meu irmão

De nascença duvidosa
Proibiram a tua infância
Transformaram-te em distância
Como braços de alcançar

Foste folha a flutuar
Arrastada pla corrente
E o teu sangue foi semente
Dos cifrões doutro lugar

Gostavas de ouvir cantar
As modas da nossa terra
E as verdades que ela encerra
No seu jeito popular

Teu corpo de tudo dar
Corre nas veias do mundo
Imenso, fértil, fecundo
Com força de terra e mar

Ponho aqui o recordar
Da agrura da tua morte
Por sobre sangue a gritar
Que não foi azar nem sorte

A força do vento norte
Levou teu grito na mão
Meu amigo, meu irmão
Quem forçou a tua sorte



Fado Corrido – (Jorge Fernando – Popular)

quarta-feira, julho 12, 2006

FM026 - Tão Mentirosa (Fernando Maurício)

Tão Mentirosa

Não sejas cabeça tonta
Tem maneiras, tem juízo

Nunca digas mais que a conta
Nem menos do que é preciso


De cada vez que beijava
A tua boca mimosa

Confesso que não esperava
Que fosses tão mentirosa


Que eras só minha juravas
De mãos em cruz sobre o peito

Ao outro dia quebravas
A jura que tinhas feito


É verdade confirmada
Nesta vida infelizmente

Quem mente por tudo e nada
Quanto mais jura mais mente



(Moita Girão / J. M. Artilheiro)

FM025 - Sótão Da Amendoeira (Fernando Maurício)

Sótão da Amendoeira

Naquele típico sótão
Sob as telhas mais antigas
Da Rua da Amendoeira

Inda há traços que denotam
O sabor dado às cantigas
Pla Matilde cantadeira


Airosa mas inconstante
A Matilde dava ao Fado
A graça de outros estilos

No velho café cantante
Que ficava mesmo ao lado
Da Estalagem dos Camilos


No sótão esconso e sujo
Três sombras, porte ufano
Espreitam a Mouraria

As lágrimas dum Marujo
Os ciúmes dum Cigano
E os remorsos de um Rufia


Senti presos os meus pés
Mas desviei o caminho
E quedei-me ali à beira

Só para ver outra vez
Aquele sótão velhinho
Da rua da Amendoeira



Marcha-Hino Raul Pinto - (Carlos Conde / Raul Pinto)

FM024 - Saudades De Mim (Fernando Maurício)

Saudades De Mim

Quem me dera voltar aos verdes anos
Ser como um malmequer simples criança

Não ter do teu amor os desenganos
Nem sofrer dos teus beijos a lembrança


Haver sempre em meu peito a primavera
Dum garoto estouvado e libertino

Não conhecer saudades quem me dera
Pois já tive um calvário em pequenino


Calvário muito meu onde brinquei
E construí castelos de desejos

Calvário onde te vi onde te amei
À sombra do calvário dos teus beijos


Se o meu cantar é triste são lamentos
Anseios de um sonho vivo de menino

Os anos são lembranças, são tormentos
Desfeitos no calvário do destino



Fado Alberto - (Miguel Ramos / João Gomes)

FM023 - Quando Me Sinto Só (Fernando Maurício)

Quando Me Sinto Só

Quando me sinto só
Como tu me deixaste
Mais só que um vagabundo
Num banco de jardim

É quando tenho dó
De mim e por contraste
Eu tenho ódio ao mundo
Que nos separa assim


Quando me sinto só
Sabe-me a boca a Fado
Lamento de quem chora
A sua triste mágoa

Rastejando no pó
Meu coração cansado
Lembra uma velha nora
Morrendo à sede de água


Pra que não façam pouco
Procuro não gritar
A quem pergunto, amigo
Não quero meter dó

Num egoísmo louco
Eu chego a desejar
Que sintas o que sinto
Quando me sinto só



(Alfredo Marceneiro / A. Ribeiro)

FM022 - Pede-me Tudo (Fernando Maurício)

Pede-me Tudo

Pede-me a luz das estrelas
O seu doce cintilar
Que eu farei por conseguir

Escolher entre todas elas
As que mais podem brilhar
As mais sabem luzir


Pede-me o brilho da lua
Do sol radioso e quente
O soalheiro calor

Logo a lua será tua
Do astro rei num repente
Terás também o fulgor


Pede-me o sal as marés
As ondas a cor do mar
Da alva espuma a cambraia

Pronto verás a teus pés
Oceanos desmaiar
Tal qual como na praia


Tudo o mais que te apeteça
Sentirás ao teu dispor
Se me pedires te darei

Só não peças que te esqueça
Acredita meu amor
Como fazê-lo não sei



Fado Georgino - (Jorge Rosa / Georgino de Sousa)

terça-feira, julho 11, 2006

FM021 - Passos na Rua (Fernando Maurício)

Passos na Rua

Passos na rua, quem passa
Quem passa trás o passado
Talvez seja uma ameaça
Ou o silêncio de Fado

Passos na rua, quem é
É um sonho magoado
É a ira da maré
É a morte dum pecado

Passos na rua, ilusão
De quem quer ouvir tais passos
Talvez seja o coração
A gritar os seus cansaços

Passos na rua, sentença
Dum Fado por inventar
Passos na rua, descrença
Deixai os passos, passar



(C. Manuel / José António Sabrosa)

FM020 - O Meu Fado (Fernando Maurício)

O Meu Fado

O mistério mais profundo
Está no destino marcado

Seja onde for neste mundo
Todos nós temos um fado

O meu está bem definido
É castiço e tem magia

Basta pra lhe dar sentido
Eu ter nascido na Mouraria


Um fadista quando canta
A voz sai da garganta
Os ais do coração

Mata a dor e faz esquecer
Alguém que o faz sofrer
De amor ou de ilusão


A vida tem os seus fados
Marcados pelo destino

Quantos caminhos cruzados
Eu passei desde menino

Mas não importa o passado
Quando o presente se avista

Trago o destino marcado
Neste meu fado de ser fadista


Um fadista quando canta
A voz sai da garganta
Os ais do coração

Mata a dor e faz esquecer
Alguém que o faz sofrer
De amor ou de ilusão



(Júlio Vieitas)

FM019 - O Meu Coração Parou (Fernando Maurício)

O Meu Coração Parou

O meu coração parou
E tudo ficou parado
Após cantar meu fado
Emudeceu na garganta

Não chego a saber quem sou
Nem o que faço na vida
Sou folha no chão caída
Sou poeta que não canta

Nem um grito de revolta
Nestes meus lábios cansados
Nos meus olhos magoados
O olhar de ver ninguém

Sou quarto onde ninguém volta
Sou um berço sem menino
Uma carta sem destino
Que não sabe donde vem

Eu sou o louco mais louco
À solta por esse mundo
Sou um verso tão profundo
Que ninguém o decifrou

Tudo isto porque há pouco
Quando cheguei não te vi
E até tu voltares aqui
O meu coração parou



Fado Menor (A. Ribeiro)

FM018 - O Leilão da Casa da Mariquinhas (Fernando Maurício)

O Leilão da Casa da Mariquinhas

Ninguém sabe dizer nada, Da formosa Mariquinhas
A casa foi leiloada, Venderam-lhe as tabuinhas

Inda fresca e com gagé, Encontrei na Mouraria
A antiga Rosa Maria, E o Chico do Cachené

Fui-lhes falar, já se vê, E perguntei-lhes, de entrada
P’la Mariquinhas coitada? Respondeu-me o Chico: e vê-la
Tenho querido saber dela, Ninguém sabe dizer nada.

Então as suas amigas? A Clotilde, a Júlia, a Alda
A Inês, a Berta, a Mafalda? E as outras mais raparigas?

Aprendiam-lhe as cantigas, As mais ternas, coitadinhas
Formosas como andorinhas, Olhos e peitos em brasa
Que pena tenho da casa, Da formosa Mariquinhas

Então o Chico apertado, Com perguntas, explicou-se
A vizinhança zangou-se, Fez-lhe um abaixo assinado

Diziam que havia fado, Ali até madrugada
A pobre foi intimada, A sair, foi posta fora
E por mor duma penhora, A casa foi leiloada.

O Chico fora ao leilão, Arrematou a guitarra
O espelho a colcha com barra, O cofre-forte e o fogão

Como não houve cambão, Porque eram coisas mesquinhas
Trouxe um par de chinelinhas, O alvará e as bambinelas
E até das próprias janelas, Venderam-lhe as tabuinhas.



Fado Corrido – (D.R. / Linhares Barbosa)

FM017 - Não Te Menti (Fernando Maurício)

Não Te Menti

Alguém te foi dizer que adoro o fado
Pensei que não te dessem novidade

Pois quando aprofundaste o meu passado
Com franqueza te expus toda verdade


Recordas certamente de eu dizer
É fado esta tristeza que me mói

É fado o meu cantar, o meu sofrer
E é fado esta saudade que dói


É fado o meu beijar o meu carinho
É fado o meu sorriso, o meu perdão

E até este passar no teu caminho
É fado podes crer meu coração


Eu dava-te razão se te mentisse
Pedia-te perdão logo em seguida

Mas já cantava o fado quando disse
Que és tu o grande amor da minha vida



Fado Alberto - (Moita Girão / Miguel Ramos)

FM016 - Na Mouraria (Fernando Maurício)

Na Mouraria

Na velha Mouraria é onde eu moro
Qual jóia sem valor em áureo cofre

Agora é lá que eu sofro, canto e choro
Como um fadista chora, canta e sofre


Embala-me à janela num sonho lindo
Do Fado suspirando à luz da lua

E as lágrimas que choro vão caindo
Quais pérolas de mágoa sobre a rua


Perpassa o sentimento português
Naquelas ruas tristes e bizarras

E sobre as tuas pedras muita vez
Eu julgo ouvir trinar, velhas guitarras


Na minha vida incalma de fadista
Eu sinto dentro d’alma noite e dia

Vibrar alegremente a fé bairrista
De quem sabe sofrer na Mouraria



Fado Latino - (J. Pereira / Gabriel de Oliveira)

FM015 - Moreninha da Travessa (Fernando Maurício)

Moreninha da Travessa

Moreninha da travessa
Que atravessa a minha rua
Apenas por culpa sua
Penas minha alma atravessa

Onde vai assim depressa
Porque atravessa a correr
Fugindo a quem a quer ver
Onde vai com tanta pressa

Por mais que diga e lhe peça
Que essa pressa diminua
Apressada continua
E o que eu digo não lhe interessa

Qualquer dia inda tropeça
Nessa pressa de fugir
Tropeça e pode cair
Veja lá não caia nessa

Mas se cair lhe aconteça
Pra se livrar de embaraços
Veja se cai nos meus braços
Moreninha da travessa

Veja se cai nos meus braços
Veja lá se cai depressa



(Jorge Rosa/Filipe Pinto)

segunda-feira, julho 10, 2006

FM014 - Lisboa Formosa (Fernando Maurício)

Lisboa Formosa

És de todas as cidades
A cidade mais vistosa
Tens a cor maravilhosa
Com que se pintam saudades

Tens craveiros à janela
Beijados pelo luar
És rica desde a chinela
Ao sol que te vem beijar


Lisboa formosa
Menina mimada
Que sabe cantar

Tens graça de rosa
Linda perfumada
Aberta ao luar


Lisboa formosa
Menina risonha
De lindo passado

Lisboa saudosa
Lisboa que sonha
Lisboa do fado


São teus bairros diamantes
Com que vaidosa te enfeitas
Sempre que à noite te deitas
Vestes estrelas de brilhantes

Em carícia apaixonada
O Tejo beija-te os pés
Lisboa cidade amada
Lisboa tão linda és




(Moita Girão / Adelino dos Santos)

FM013 - Igreja de Santo Estêvão (Fernando Maurício)

Igreja De Santo Estêvão


Na igreja de Santo Estêvão

Junto ao Cruzeiro do Adro

Houve em tempos guitarradas


Não há pincéis que descrevam

Aquele soberbo quadro

Dessas noites bem passadas



Mal que batiam trindades

Reunia a fadistagem

No adro da santa igreja


Fadistas quanta saudade

Da velha camaradagem

Que já não há quem a veja



Santo Estêvão padroeiro

Desse recanto de Alfama

Faz um milagre sagrado


Que voltem ao teu Cruzeiro

Esses fadistas de fama

Que sabem cantar o fado


Fado Vitória – (Joaquim Campos - Gabriel de Oliveira)

sábado, julho 08, 2006

FM012 - Fui Dizer-te Adeus Ao Cais (Fernando Maurício)

Fui Dizer-te Adeus Ao Cais

Fui dizer-te adeus ao cais
Levado plo sentimento
Que guiava os passos meus

Não devo sentir jamais
A tristeza do momento
Em que dissemos adeus


Apenas duas palavras
Um leve aperto de mão
E um beijo que simulei

Ao tempo que te afastavas
Senti que o meu coração
Ia contigo também


Já distante os olhos teus
Não viam que a minha mão
Ia acenando a tremer

Volta depressa por Deus
Levaste o meu coração
Sem ti não posso viver



Fado Porto - (José Joaquim Cavalheiro Júnior / António Rocha)

FM011 - Feira da Ladra (Fernando Maurício)

Feira da Ladra

Fui à Feira da Ladra, a mais bizarra
Das feiras com a marca do passado,

E vi num ferro-velho uma guitarra
De tampo, sujo, negro e desgrudado!


No fundo uma etiqueta já sem cor
Ocultava um retrato que ficou

E que era de um famoso tocador
Que a morte há muitos anos já levou!


Quatro cordas em rugas de cantigas
Se nada mais fizessem recordar,

Lembravam quatro décimas antigas
À volta de uma quadra popular!


Comprei aquela jóia que se enquadra
Em tudo o que são velhas raridades,

Inda é preciso haver Feira da Ladra
P’ra nos mostrar o preço das saudades!



Fado Zé Grande - (Raul Pereira - Carlos Conde)

FM010 - Fado é Condão (Fernando Maurício)

Fado é Condão


Cantar o Fado é condão
Que já vem dentro de nós

É ter voz, ter coração
E ter coração na voz


Às vezes ouço dizer
E quem o diz tem razão

Não canta o Fado quem quer
Cantar o Fado é condão


Não é grito de alegria
Nem é sofrimento atroz

É não sei quê que inebria
Que já vem dentro de nós


Cantar o Fado na verdade
É vibrar numa canção

É saber sentir saudade
É ter voz no coração


É cantar em qualquer lado
É chorar, estando a sós

É escrever versos dum Fado
E ter coração na voz



(Francisco Viana / Moita Girão)

FM009 - Eu, Ela e o Fado (Fernando Maurício)

Eu, Ela e o Fado


Põe as tuas argolas nas orelhas
Calça chinela e leva meia branca

Sobre o cabelo põe rosas vermelhas
Que vamos à toirada a Vila Franca


Hás-de ir a trajar bem pra dar nas vistas
E dizer mal de ti, que ninguém pense

Quero mostrar a todos os fadistas
Que a mais bela fadista me pertence


Quando a praça estiver de todo à cunha
Que vamos a marcar ninguém o nega

Depois quando tocar pró boi à unha
Eu hei-de te oferecer a melhor pega


Havemos de cear fora de portas
Onde a minha guitarra vai bar brado

Ali de canjirão a horas mortas
Hás-de mostrar como se canta o fado



(Moita Girão / Joaquim Campos Armando Machado) [correcção de J.F.Castro]

quinta-feira, julho 06, 2006

FM008 - Eu Quero (Fernando Maurício)

Eu Quero

Eu quero, eu sei o que quero
A vida pra mim é assim
Eu quero, eu sei onde vou, eu quero

Mas não quero nem tolero
Que possas julgar de mim
Tudo aquilo que não sou, não quero


Quero seguir o caminho da verdade
Deus queira, que este amor seja sincero

Se for caminho errado
Será mais um pecado
E amor por caridade, não quero


Escuta, medita, tem calma
Eu quero chamar-te à razão
Não quero desdém nem ciúme, não quero

O fogo que tens na alma
Faz queimar meu coração
Quero apagar esse lume, eu quero


Quero seguir o caminho da verdade
Deus queira, que este amor seja sincero

Se for caminho errado
Será mais um pecado
E amor por caridade, não quero



(Júlio Vieitas)

quarta-feira, julho 05, 2006

FM007 - Eterno Desejo (Fernando Maurício)


Eterno Desejo

Se já nada me resta, Que mais queres tu de mim
Deixa-me apenas só, Entregue à minha dor

Se o fantasma remorso, Não me fala de ti
Não queiras reviver, O que foi nosso amor


Deixa que a luz se apague, Impávida e serena
Na triste solidão, Da estranha melodia

Que nem a noite veja, Alucinante cena
Que foi prazer dum ano, E calvário dum dia


Não lhe chames saudade, Mas sim amor perdido
Que tudo se desfez, Num sonho amargurado

Meu pobre coração, De ti já está esquecido
E canta agora triste, Sem fé resignado


Deixa que seja eu, A matar o passado
A dispersar as cinzas, Desse eterno desejo

Depois de tudo morto, Só nos resta o bocado
Do calor que ficou, Do teu último beijo



Fado Joaquim Campos 4ªs - (João Gomes / Joaquim Campos)

FM006 - Enigma (Fernando Maurício)

Enigma

Das horas perco a noção
Assim que a noite declina
Prá madrugada chegar

Envolto na escuridão
Procuro sempre uma esquina
Só para te ver passar


Quero dizer que te amo
Mas qual sombra fugidia
Passas por mim descuidada

Quando a tua imagem chamo
À luz divina do dia
É tudo sombra e mais nada


Por isso sem que me afoite
Em passar de noite à rua
Onde em má hora te vi

Procuro as sombras da noite
Então escondido da lua
Eu canto pensando em ti


Quem sou, quem és, não importa
Eu sou mais um que suporta
Um amor inconfessado

E tu com esse amor esquivo
Serás o doce motivo
Que m’inspirou este Fado



Fado Zé Negro - (José Negro / Domingos Gonçalves Costa)

FM005 - Divino Sol (Fernando Maurício)

Divino Sol

Quem nasceu neste cantinho
Coberto de azul dos céus
Tem amor pão e carinho
E tem a bênção de Deus

O povo é franco mas pobre
E tem a grande riqueza
Do sol bendito que cobre
Esta terra portuguesa


Este sol de Portugal
Não tem rival
No mundo inteiro

Divino manto de luz
Que até seduz
Qualquer estrangeiro


Na terra não há pintor
Que lhe dê cor
Tão milagrosa

Pra ser mais linda e real
É Portugal
Em cor de rosa


Do Algarve até ao Minho
Há bailados e cantigas
Seja um Vira, um Corridinho
Na graça das raparigas

Seja em Lisboa ou Coimbra
No Porto, ou em qualquer lado
Há sempre uma voz que timbra
A nostalgia dum fado



(Júlio Vieitas)

FM004 - Biografia do Fado (Fernando Maurício)

Biografia do Fado

Perguntam-me p’lo Fado, Eu conheci-o:
Era um ébrio, era um vadio, Que andava pla Mouraria
Talvez inda mais magro que um cão galgo
A dizer que era fidalgo, Por andar com a fidalguia

Seu pai era um enjeitado, Que até andou embarcado, Nas caravelas do Gama
Um malandro andrajado e sujo, Mais gingão do que um marujo, Dos velhos becos de Alfama


Pois eu, Sei bem onde ele nasceu
Que não passou de um plebeu, Sempre a puxar p’ra vaidade

Sei mais, Sei que o Fado é um dos tais
Que não conheceu os pais, Nem tem certidão de idade


Perguntam-me por ele, Eu conheci-o:
Num perfeito desvario, Sempre amigo da balbúrdia
Entrava na Moirama a horas mortas, E ao abrir as meias portas, Era o rei daquela estúrdia

Foi às esperas de gado, Foi cavaleiro afamado, Era o delírio no Entrudo
E dessa vida agitada, Ele que veio do nada, Não sendo nada era tudo


Pois eu, Sei bem onde ele nasceu,
Que não passou de um plebeu, Sempre a puxar p’ra vaidade

Sei mais, Sei que o Fado é um dos tais
Que não conheceu os pais, Nem tem certidão de idade


(Frederico de Brito)

FM003 - Bater do Coração (Fernando Maurício)

Bater do Coração

Era amor o que sentia, francamente. Não era desejo não, martírio infindo
Era amor que te trazia, docemente, No bater do coração, num sonho lindo

Se tivesses coração, dentro do peito, Decerto sabias já, mas não te ralas
Já sabias a razão, e qual o jeito, Das pancadas que o meu dá, quando me falas

A bater sempre a bater, se faz loucuras, Se diz sim ou se diz não, bate também
Vá lá a gente entender, certas alturas, O bater do coração, se adora alguém

Ensinei meu coração, sem fingimento, Uma vez a dizer sim, à despedida
Ele teimou disse não, nesse momento, E tu fugiste de mim, pra toda a vida



Fado Versículo - (Alfredo Marceneiro / Moita Girão)

FM002 - Basta Coração (Fernando Maurício)

Basta Coração

Uma promessa, um sorriso, Um leve aperto de mão
E nada mais é preciso, Pra prender um coração

Uma esperança que se afaga, Nunca morre num repente
O lume quando se apaga, Deixa sempre cinza quente

Não há nada que mais doa, Nem que mais faça sofrer
Do que amar uma pessoa, Que nem sequer nos quer ver

A saudade mais sentida, Mais profunda creio eu
É sentir dentro da vida, O amor que já morreu



Fado Solene - (Moita Girão / Alberto Correia)

FM001 - Alfama (Fernando Maurício)

Alfama

Alfama bairro velhinho, monumento de saudade, sacrário de tradições
Tens um lugar de carinho, e de sincera amizade, nas minhas recordações

Bairro de gente do mar, de varinas e marinheiros, são fruto que nos dás
Honrados no trabalhar, alegres e galhofeiros, no descanso e boa paz

Quando tem uma tristeza, no coração magoado, cantando a sabes dizer
O teu fado é uma reza, e desabafas num fado, a razão do teu sofrer

Usando por garridice, craveiros a enfeitar, o beco mais recatado
És mais velha que a velhice, mais marinheira que o mar, e mais fadista que o fado



Fado Correeiro - (A. Correeiro / A. Sobral)

Link para ouvir um pouco Fernando Maurício em Alfama: http://lisboa.kpnqwest.pt/audio/fado/alfama.au

Fernando Maurício, um pouco da sua história



Data de Nascimento: 21-11-1933
Local de Nascimento: Mouraria, Lisboa
Data de Falecimento: 15-07-2003
País de Origem: Portugal

Natural do Bairro da Mouraria, em Lisboa, o fadista Fernando Maurício nasceu no dia 21 de Novembro de 1933, e é hoje considerado por muitos conhecedores da especialidade como o maior fadista da sua geração, apesar do seu descuido perante a necessidade de uma carreira discografica. Revelando, desde cedo, os seus dotes para o mundo do espectáculo, foi com apenas treze anos que se sagrou em terceiro lugar no concurso "João Maria dos Anjos". Nessa altura, obteve uma autorização a título excepcional da Inspecção de Espectáculos, e pôde assim dar início à sua actividade musical a nível profissional.
Cantou regularmente durante um período de três anos, no Café Latino, bem como n'Os Marialvas e no Vera Cruz, no entanto quando contava dezassete anos resolveu interromper a actividade, que só retomou em 1954, no Café Luso.
Fernando Maurício participou nos primeiros programas da RTP experimental, bem como no terceiro a ser transmitido e, em 1969, foi distinguido com o Prémio da Imprensa. Em Maio de 2001, no Coliseu, foi agraciado pelo Presidente da República, com a Comenda da Ordem de Mérito.
Faleceu a 15 de Julho de 2003 no Hospital dos Capuchos, em Lisboa, vítima de uma trombose.

in cotonete.clix.pt

O Rei do Fado "Fernando Maurício"

Pretendo editar todos os poemas cantados por Fernando Maurício e outros artistas. Consoante o seu nome terão várias designações. Neste caso a designação será FM???.